sábado, 11 de dezembro de 2010

Há cem anos nascia Noel Rosa, o primeiro grande poeta do samba

Noel Rosa viveu apenas 26 anos e produziu músicas por menos de oito anos. Foi o suficiente para imprimir seu nome na história da música brasileira como autor de alguns dos maiores sambas de todos os tempos. Ele nasceu a exatos cem anos, em 11 de dezembro de 1910, num parto difícil. O fórceps deixou um sinal no maxilar deformado, marca registrada. Filho de um casal de classe média baixa do bairro carioca de Vila Isabel, o garoto feio e franzino aprendeu a tocar bandolim com a mãe Marta. Estudou no tradicional Colégio São Bento. Na adolescência começou a tocar violão nos círculos boêmios do Rio de Janeiro, com lendas da malandragem como João de Barro e Almirante, e entrou em contato com o então nascente samba dos morros e dos quintais do bairro do Estácio.

Entrou na faculdade de medicina, mas o chamado da malandragem era mais forte. Aos 19 anos fez suas primeiras composições, e em 1930 veio o primeiro sucesso, o clássico Com que Roupa?, amostra de sua notável capacidade de criar crônicas quase cinematográficas do dia a dia e da vida urbana no Rio de Janeiro, criando letras com um humor ácido e incrível poder de síntese. Com uma visão pessimista do amor, era o protótipo do poeta romântico. Em contato com sambistas como Cartola, fez a ligação entre o morro pobre e a classe média da Vila Isabel.

Seus sambas foram gravados pelos maiores cantores da época, como Francisco Alves, Mário Reis e sua maior intérprete, Aracy de Almeida. Cantou o seu bairro natal na música Feitiço da Vila, que gerou uma lendária polêmica com o rival Wilson Baptista. O rival ironizou Palpite Infeliz na música Conversa Fiada ("é conversa fiada, dizerem que o samba na Vila tem feitiço, eu fui ver pra crer, e não vi nada disso"). Noel devolveu com a obra-prima Palpite Infeliz. "A Vila é um cidade independente, que tira samba, mas não quer tirar patente, pra que ligar a quem não sabe, aonde tem o seu nariz, quem é você que não sabe o que diz?"
Conversa de Botequim, uma de suas músicas mais conhecidas, impressiona pela descrição cinematográfica de uma cena corriqueira: o cliente folgado no balcão de um bar. "Seu garçom faça o favor de me trazer depressa, uma boa média que não seja requentada, um pão bem quente com manteiga a beça, um guardanapo, e um copo d'água bem gelada..."

Ele se casou em 1934 com Lindaura, mas teve uma longa listas de namoradas e amantes, muitas prostitutas e dançarinas de cabaré, além de mulheres casadas. Tornou-se uma estrela do rádio, que surgia com principal meio de comunicação, legitimando o samba, até então um ritmo considerado "marginal", entre a sociedade carioca. Em apenas oito anos de atividade, Noel compôs cerca de 300 sambas. Morreu em 4 de maio de 1937, vítima de tuberculose, a doença típica dos poetas românticos, causada pela saúde frágil agravada pelos hábitos boêmios. Se tornou uma lenda da música brasileira, reverenciado por todas as gerações de sambistas que vieram depois.

Sua biografia definitiva, escrita por João Máximo e Carlos Didier, está esgotada nas livrarias e uma disputa judicial entre os herdeiros impede novas edições. Em 2006 foi lançado o longa-metragem Noel - Poeta da Vila, do diretor Ricardo Van Steen e com Rafael Raposo como Noel e Camila Pitanga como a amante Ceci, baseado no livro.
(Terra)


Tenho uma amiga que sempre que tomas umas e outras, pega o violão e arranha assim: "Quando eu morrer, não quero choro nem vela. Quero uma fita amarela gravada com o nome dela..."
Mas uma das minhas preferidas de Noel é esta:

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