quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Minha eterna saudade...

EU e minhas lembranças
Texto publicado no dia 31.12.2010

Eu me lembro dele praticamente todos os dias. Sinto saudades, às vezes ainda choro. E em um dia como hoje então, que além de ser reveillon é sexta-feira. Era sagrado, ou melhor era  'Lei' dar aquela passadinha na casa dele e Paulinha, para trocarmos presentes e brindarmos o fim e o inicio de mais um ciclo da nossa existência.  Tinha todo o ritual em família. Ele era parte de mim, como se fosse família.


Quando chega sexta-feira a tarde, não tem como não lembrar  do nosso cantinho sempre reservado do lado esquerdo na Adega do Alfredo. O Português até hoje quando me encontra lembra e cobra a minha presença.  Só apareço de ano em ano quando entro mascarada de Piaba com a trupe de Ana Gondim. O Português nunca percebeu que era eu. 

Olhar para o mar da Ponta do Seixas me faz recordar não só a canção da amiga Cátia de França, mas lembro especialmente das cinzas dele que joguei e serviram de alimento pra natureza.


Era cinéfilo, devorava livros e mais livros, o que fazia nossas conversas uma troca construtiva. Disciplinado. Acordava cedinho e às 07 da matina já estava atualizadíssimo de todas as notícias dos jornais, televisão, rádio e internet da Paraíba, Brasil e do mundo. Quando chegava na televisão que trabalhávamos já tinha todas as pautas em mente. Adorava emplacar matérias na nacional. 

Com ele não tinha meio termo, falsidade, aliás, ele não mandava nem recado. Ele mesmo dizia que era chato. Do tipo ame-o ou odeio-o. Ele me dizia que não gostava de preguiça.  Odiava calhordas, mau caráter. Era exigente, observador, meio caladão.  Éramos muito críticos um com o outro. A gente brigava, mas era para produzir a melhor notícia para o telespectador. Ele tinha um faro jornalístico impressionante! Uma incrível capacidade de ver a notícia onde ninguém enxergava.

Como chefe não alisava mesmo. Ele respirava, bebia, fumava e comia jornalismo. Muitos profissionais estranharam o estilo e ritmo dele. Para mim foi um grande mestre.

Os médicos disseram que não foi o cigarro que matou meu amigo.  Ora, se não foi consequência dos maços de cigarro que ele fumava, será então que foi o jornalismo que causou câncer no meu amigo? Outro dia  eu estava pensando: jornalismo mata? ou faz apenas um estrago bem grande naqueles que são viciados? Me lembrei agora do gigante Jacinto Barbosa.

Bom, voltando às lembranças do meu amigo, acredito que até hoje algumas pessoas não lembram dele com carinho. Acho que é porque ele parecia com um alemão tipo nazista, ditador, calculista. Confesso que no inicio eu também achei. Nada disso, era um meninão, um lobo solitário, boêmio, sempre amando, de bom coração, solidário e com humor inteligente. Fazia tiradas cômicas do cotidiano das redações.
Na Extremoriental, muitas vezes do nada ele me entregava um poema. Penso que ele queria sinalizar que existia poesia dentro dele. E eu confesso que nem me toquei logo disso. Lamento só ter descoberto que meu amigo era poeta tão pouco tempo antes dele ir embora. 

Podem dizer tudo do meu amigo. Só nunca vão dizer que ele não era competente, verdadeiro, profissional, autêntico, ético, bom caráter e o melhor de tudo ERA MEU AMIGO. O nome dele é Roelof Sá, meu velho Roy.

“Entre 79 e 80, eu tinha uma empresa de comunicação, a Intermedia, onde Roelof trabalhou como editor de jornais de empresa e da Revista do Clube de Engenharia. Fleugmático, bem humorado, fino, elegante, competente. Me lembro de um incidente que revela o caráter de Roe: Ele estava entrevistando o representante federal da pesca em Recife, quando este percebeu o pequeno gravador à tiracolo e disse:"nada de gravações". Roe, com sua calma habitual e serena, replicou: "Se precisasse gravar, eu pediria sua autorização.". Quando terminou a entrevista, Roe fulminou: "Doutor, se eu quizesse lhe sacanear eu tinha gravado a sua entrevista, mas não faz o meu estilo", e tirou um mini-gravador do bolso do paletó!”, lembrou Don Antonio, diretor do Memorial Pernambuco.

Roy em suas  ‘Perdidas Palavras' disse:
Faço assim
porque
escrever
não é mais
que um jeito
leve de morrer


Memória - O jornalismo paraibano perdeu Roelof Sá no dia 18/04/06, aos 46 anos, quando faleceu às 9h30, no Hospital do Câncer, em São Paulo. Roelof foi internado por duas semanas por conta das complicações de um câncer de pulmão e seu corpo foi cremado no Crematório Vila Alpina, na capital paulista.
Atendendo a um pedido dele, as suas cinzas vieram para a Paraíba, e jogadas no mar da praia do Seixas, extremo oriental das Américas, em João Pessoa. 


Edileide Vilaça

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