terça-feira, 17 de maio de 2011

Geraldo Vandré vai ser homenageado, pela primeira vez, por um Festival de Cinema

 Vandré lê o termo de compromisso do Festival
Foto: Darlan Ferreira
Geraldo Vandré, autor da célebre canção que se tornaria hino de resistência à ditadura militar no Brasil , “Pra não dizer que não falei das flores”, promete retornar à Paraíba, onde nasceu, em dezembro próximo e será por um  motivo muito especial: ele é o homenageado do 7º Fest-Aruanda do Audiovisual Brasileiro, constituindo-se na primeira vez em que o artista será agraciado por um festival de cinema no país. Quem informa é o jornalista e coordenador-geral do evento, Lúcio Vilar, que esteve com o cantor e compositor.

O encontro entre Vandré e Lúcio aconteceu em um restaurante no centro da capital paulista onde foi oficializado o anúncio da homenagem que “sensibilizou o artista”, segundo relato de Vilar, ainda sob o impacto das conversas que consumiram a tarde inteira do último dia 7 de maio.
Lúcio Vilar e Geraldo Vandré conversam em restaurante paulista
Foto: Darlan Ferreira
- “Estava muito ansioso por esse momento, pois nunca havia visto o Vandré de perto, mas o encontro foi o mais informal possível”, disse o coordenador que tomou a decisão pela homenagem em razão da participação do artista em um filme realizado nos anos sessenta, hoje reconhecido como um “clássico” da década ‘cinemanovista’. “A  Hora e Vez de Augusto Matraga“, é baseado em obra de Guimarães Rosa e  foi  lançado em 1965. O longa foi dirigido por Roberto Santos, cuja música é assinada por Geraldo Vandré. Na época, o filme recebeu os prêmios de melhor argumento, diálogo, direção e ator (Leonardo Villar) na I Semana do Cinema Brasileiro, em Brasília, em 1966.
Os passos do tão esperado encontro do diretor do Festival com o mito da MPB
São Paulo/SP - Já passava das 13h quando um táxi estacionou próximo aonde aguardava ansiosamente por um dos maiores nomes da música popular brasileira de todos os tempos. Geraldo Vandré desce do carro, e nos cumprimentamos pela primeira vez. Caminhamos da Martins Fontes, onde nos encontrávamos, na direção do Largo do Paissandu, transitando por ruas abarrotadas de ambulantes e trabalhadores que se despediam do meio expediente de um sábado de temperatura em declínio.
Em restaurante na região central que serve um impecável ‘mexidinho de ovos’, e onde já é velho habitué, sua presença é saudada afetivamente pelo proprietário e seus garçons. É aí que Vandré aceita o convite, autografa o documento oficial, e me revela uma curiosidade. Sua opção por viajar de carro, e que gostaria de refazer o percurso mais uma vez dirigindo até João Pessoa para participar do festival Aruanda.
Compartilhei que tal idéia também me fascinava, mas que nunca havia consumado tal intento. Ele, além de me ‘desafiar’ a encarar a empreitada, justificou as razões de ordem filosófica, digamos assim.
- “De massificação, basta a daqui de baixo. Ônibus aéreo jamais!”, pontificou. E lembrou da viagem que fez, num Galaxi que conserva até hoje, de São Paulo à Anápolis, no final de 1968, ainda sem a informação de que o AI-5 havia sido decretado, e que teve que retornar com o cancelamento de um dos shows. Contou com riqueza de detalhes como conseguiu passar incólume por todas as barreiras policiais encontradas no caminho,  para me ‘desafiar’ novamente:
“E por que você não conversa com uma grande empresa em João Pessoa para apoiar o festival e colocar um automóvel para que possa ir dirigindo até lá?”, disse assim, na lata, ao que lhe devolvi, de imediato, tratar-se de uma simpática, sedutora e boa idéia de marketing a se pensar. Quem sabe, possa interessar aos senhores empresários do setor (alguém aí se habilita a alavancar a imagem de sua empresa por uma causa justa?…).
Os papos foram muitos, mas não poderia faltar o registro à “Fabiana”, canção que fez para a Aeronáutica, cuja cópia em formato de bolso me presenteou. Pedi para que autografasse e revelei que ele era a segunda personalidade artística a quem fizera pedido semelhante. O saudoso Zé Kéti foi o primeiro, também aqui em São Paulo nos anos noventa.
- “Não há um segundo sem um primeiro”, disse-me um Vandré generoso e descontraído, logo tascando sua assinatura.
Entre alguns poucos goles de cerveja e saídas para fumar (aqui é proibido fazê-lo em recinto fechado), aquele homem de cabelo tingido pelo néon do alto de seus 76 anos me impressionava a cada nova fala, sempre com algo espantosamente instigante sobre o Brasil, resquícios e fragmentos que ficaram de sua época e o ‘fastio cultural’ que perpassa novas gerações de gostos e sentidos duvidosos.
Estava diante de um mito. Sim, é verdade. Ali estava o homem que, sozinho, colocou o Maracanãzinho a seus pés para seguir a canção, braços dados ou não. Descobri, porém, muito mais. Muito além, portanto, da cristalização desse mesmo mito. Enxerguei Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, homem extremamente lúcido e pé no chão, pronto a falar duras e cristalinas verdades de modo refinado e elegante, dado o aguçado senso crítico que impressiona profundamente quem se coloca na condição de seu interlocutor.
Saímos do restaurante e refizemos o percurso novamente a pé, desta vez pelos calçadões de artérias comerciais do centro de São Paulo. Sentamos em um banco de praça, por sugestão sua, meio que para não interromper a inspirada prosa, agora cortada por rajadas geladas de vento da tarde que já avançava para seu breve lusco-fusco nesse outono paulistano com cara de inverno.
Despedimo-nos outra vez na Martins Fontes. Sigo o caminho de volta com a absoluta certeza de que havia experimentado um sentimento sem precedentes. Melhor ainda é saber que esse privilégio será compartilhado por um número ainda maior de pessoas, com sua presença na abertura do Fest-Aruanda.
(*) Lúcio Vilar é professor da UFPB, coordenador do Fest-Aruanda e pós-doutorando da ECA-USP.
sico do cinema nacional está na programação
Segundo o coordenador do FestAruanda, o filme “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” terá exibição especial na noite da abertura oficial do 7º Fest-Aruanda, dia 9 de dezembro no Hotel Tambaú , Paraíba . Antes, o cantor e compositor será homenageado pela organização do festival com a entrega dos troféus Aruanda (de Contribuição ao Cinema Nacional e Contribuição à Música Popular Brasileira nas décadas 1950-1960).

Fonte: Bernadete Duarte
do site canal brasil

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