terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Ambientes costeiros


As plataformas continentais constituem extensão submersa dos seus respectivos continentes apresentando declividade suave em direção ao alto mar.  Têm em média 200 metros de profundidade e sua largura pode atingir até 300 km na altura da foz dos grandes rios como o Amazonas, rio da Prata, Ganges,  Mississipi, etc. O seu limite externo (“quebra” da plataforma) é marcado pelo aumento brusco da profundidade - o talude - que acaba no assoalho oceânico, a profundidades que variam de 3.000 a 5.000 metros.

A alternância nos ciclos de elevação e recuo do nível do mar na escala de tempo geológica tem exposto parcialmente as plataformas continentais que conhecemos como planície costeira e onde se estabeleceram prolongamentos da drenagem continental. Nesses ambientes é depositada toda a carga de material em suspensão (sedimentos) trazida pelos rios. São as chamadas planícies de sedimentos flúvio-marinhos, ambientes ricos em manguezais e pântanos, onde surgiram grandes cidades como Recife, São Luís e Belém aqui no Brasil ou Nova Orleans, nos Estados Unidos. No litoral Leste nordestino, contudo, as planícies costeiras são mais estreitas em função do menor regime hidrográfico dessa região.

 Os rios são grandes agentes de transporte de materiais até os ambientes marinhos através do processo de carreamento, e responsáveis pela ”engorda” da faixa de areia das praias, importante componente absorvedor do impacto das ondas do mar. Todos os sedimentos, argilosos ou arenosos, que se encontram nas praias foram, um dia, transportados pelos rios até o mar onde, as correntes marinhas e os ventos completaram o trabalho, distribuindo esse material ao longo da linha da costa. Em muitos casos, dependendo do regime fluvial e da direção e resistência das correntes marinhas, a deposição sedimentar é feita a centenas de metros além da costa propriamente dita. Surgem assim as ilhas, restingas ou os “bancos de areia”. 

Em escala reduzida podemos dizer que Areia Vermelha em Cabedelo e a Coroa do Avião em Itamaracá são exemplos de depósitos sedimentares fluviais. Talvez o exemplo mais clássico de deposição fluvial seja a Ilha de Marajó no estado do Pará, fruto do transporte de sedimentos promovido pelo rios Amazonas e Tocantins, encontrando-se ainda em processo de formação, assim como outras tantas ilhas no Norte do Brasil. Tais formações vão sendo aos poucos povoadas por vegetais e pequenos animais marinhos, formando novos ecossistemas que, devido a sua fragilidade, se encontram atualmente bastante degradados pela intervenção humana.
As ilhas, restingas e planícies sedimentares, são formações consideradas recentes em termos geológicos e devem sua origem ao processo de deposição sedimentar. Isso explica a suavidade do seu relevo, bem diferente, por exemplo, de Fernando de Noronha e das muitas ilhas encontradas no litoral do Rio de Janeiro, todas muito acidentadas revelando sua origem  tectônica ou vulcânica. O processo de deposição fluvial através dos tempos foi responsável pela agregação de milhares de quilômetros quadrados às terras emersas, sendo que todo este material se encontrava, um dia, a milhares de metros de altitude no interior dos continentes. Uma vez transportados e acumulados no baixo curso dos grandes rios, os sedimentos acabam por agregar-se aos continentes, dando origem às extensas bacias e planícies sedimentares encontradas no norte do Brasil e no Sudeste dos Estados Unidos, formadas, neste caso, pela ação dos rios Amazonas e Mississipi, respectivamente.

Com a construção de açudes e barragens, os rios hoje já não têm a mesma capacidade de deposição de sedimentos nas áreas litorâneas. Isso porque grande parte do material em suspensão que seria carreado até às praias, acaba sendo depositada no fundo das barragens e açudes construídos ao longo dos seus cursos,   fazendo com que estes cheguem até a foz, mais ou menos “filtrados”. Dessa forma, os efeitos da elevação do nível dos mares tenderão a ser mais sentidos, pois, se por um lado a aceleração do aquecimento global tem elevado o nível dos oceanos, por outro, os rios já não fornecem tantos sedimentos  que poderiam minimizar tais impactos. Pelos sinais que já se fazem sentir, a tendência agora é o mar retomar essas vulneráveis áreas emersas que constituem as plataformas continentais, hoje infelizmente, não só ocupadas por sedimentos, mas também pelo homem.

Dermival Moreira é licenciado em geografia pela UFPE.
C
olaborador

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