quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Alimentação e Saúde

No princípio, quando ainda não havia descoberto o fogo, tão pouco inventado o ferro, o homem era “coletor”, e se alimentava apenas de frutas, raízes e sementes, vivendo em harmonia com a natureza, dela tirando seu sustento. Sendo produto daquele meio, ali ele dispunha de todas as fontes de energias que lhe conferiam um sistema imunológico poderoso e, consequentemente, um organismo bem adaptado à sua realidade. 

Com a invenção de instrumentos o homem pré-histórico passou a cultivar o solo e surgiu assim a agricultura. Posteriormente, o aprimoramento das técnicas agrícolas permitiu a acumulação e a comercialização do excedente, surgiu o dinheiro, a exploração da mão-de-obra e houve uma revolução nos hábitos alimentares que continua até hoje. Diria mais que houve uma re-evolução, pois, tendo como justificativa a praticidade – tão perseguida pelo homem moderno - os produtos industrializados foram se incorporando à cultura dos povos, e a alimentação processada tornou-se cada vez mais presente na dieta humana.  Como resultado o organismo humano foi sendo desarmonizado e sofrendo os impactos que a alimentação artificial passou a causar.

A indústria alimentícia e a mídia há muito vêm vendendo a idéia da alimentação processada, cada vez mais artificial e sintética, sustentando seus argumentos na vida prática, onde tempo é dinheiro e as pessoas estão sempre com pressa.  Esse comportamento equivocado da sociedade contemporânea tem levado as pessoas à ingestão excessiva de substâncias químicas nocivas à saúde, presentes nas massas, no açúcar “branco” refinado, nos refrigerantes e em todo tipo de enlatados. Itens estes processados com a adição de conservantes, estabilizantes e outras substâncias, a exemplo do enxofre, utilizado para que se dê ao açúcar e às massas a “boa” aparência branca, comercialmente mais aceita. Lembremos de que os cereais de forma geral, em sendo natural, normalmente têm a cor da terra; do barro; do solo; nunca são brancos. Veja-se, por exemplo, a cor da rapadura, do açúcar mascavo, do gérmen e da farinha de trigo integrais, etc. Essa mesma indústria também se preocupou em manipular os alimentos de forma a criar sabores artificiais, cuidadosamente preparados para agradar e viciar o paladar humano, assegurando a dependência química.

O agronegócio, por sua vez, tem o seu ganho de escala assentado em práticas  socialmente excludentes, como a monocultura, apenas viável com a aplicação de fertilizantes químicos e de pesticidas e na exploração insustentável dos recursos naturais. O esgotamento do solo através das práticas monocultivadas e a contaminação do lençol freático por agrotóxicos, são as causas imediatas, conseqüência desse modelo. Não seria exagero afirmar que o agronegócio e a indústria alimentícia são os grandes responsáveis pela debilidade da saúde das populações e os maiores causadores do desequilíbrio ambiental. Tal legado é fruto da cumplicidade nefasta existente entre capital e exploração que encontra nos modos de vida atuais, um grande mercado consumidor, ávido por produtos prontos ou semi-prontos que lhe confira mais comodidade. Fechando esse círculo vicioso temos o receituário da medicina ocidental, muito mais orientada para remediar do que prevenir, compactuando com os interesses da indústria farmacêutica cuja sobrevivência depende dos costumes alimentares equivocados. 

Nos últimos anos, muitas pessoas de diferentes nacionalidades, têm experimentado novos hábitos alimentares que vão desde a abstinência aos refrigerantes, massas brancas e o açúcar, até as gorduras e enlatados, priorizando o consumo de frutas, legumes e verduras cultivados organicamente, sem agrotóxicos. Esse comportamento tem a grande virtude de incentivar e de sustentar a prática da agricultura orgânica, além de ajudar a fixar o homem no campo uma vez que a mão-de-obra é totalmente manual. Como resultado dessa experiência que vem ganhando força em todo o mundo, tem-se a oferta de produtos realmente saudáveis, livres de agrotóxicos, a partir de um exemplo de desenvolvimento sustentável, sócio e ambientalmente responsável.  

Como se vê, há uma estreita relação entre a alimentação e a causa ecológica.  Sendo o planeta um organismo vivo, do equilíbrio dessa relação dependerá seu futuro e da própria humanidade. Vejo o retorno às práticas da agricultura ecologicamente correta e à alimentação vegetariana, como um resgate da harmonia que um dia existiu entre o homem e a natureza, berço da humanidade e mãe de toda a vida.

Por: Dermival Moreira - bancário e licenciado em ciências geográficas
Cajazeirense que reside em Cuiabá-MT
Colaborador exclusivo do ConstruViver

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